domingo, 13 de maio de 2007

O Papa é pop (?)

Acho que nem o próprio Papa sabia que era tão pop no Brasil, mesmo que o público inicialmente estimado não tenha comparecido. A imagem de João Paulo II, o papa "carioca" e afetuoso, é ainda muito mais familiar. Mas a cobertura da Globo dá bem a medida dessa surpreendente popularidade. Apareceu, desfilou, rezou e discursou bastante Bento XVI em São Paulo, foi pauta de longas reportagens e transmissões ao vivo. Por onde passou, foi seguido, aguardado, ovacionado, fotografado e tocado - o calor humano é uma marca do catolicismo da América Latina. Mas, para Bento XVI, o catolicismo não admite versões, ele não conhece hermenêutica. Parece que a mensagem teológica que ostenta é de retração, para dentro dos dogmas e dos ritos. Forte discurso moralista, anti-moderno e anti-pós-moderno, catolicismo como negação... Da ciência, do sexo, da política, dos pobres, a religião isolada. A espritualidade do indivíduo preocupado com a hora da morte e com o juízo final, mas que é capaz de ignorar a injustiça e o sofrimento dos mais humildes. Parece querer dizer:

- Não estamos mais interessados na sua salvação, caso teime em defender o uso de preservativos para evitar a AIDS; idem para os divorciados; idem para as pessoas de boa-fé que cuidam de mulheres envolvidas em abortos e que lutam pela vida delas; idem para os gays...

A igreja católica brasileira tem um componente missionário de solidariedade que certamente não combina com o catolicismo europeu de Bento XVI. Entre nós há o sentimento de urgência e desespero que não pode ser ignorado por quem se diga cristão. Chamamos de injustiça nosso pecado social. Mas aqueles que quiseram apresentar ao catolicismo canônico uma teologia da libertação foram excomungados.

Mas será que o cristianismo precisará tornar-se fundamentalista para permanecer como referência moral efetiva na cultura humana? Esse fundamentalismo pode ignorar os direitos humanos, por exemplo? Se não é o caso de envolver política com religião, por que Bento XVI queria celebrar um tratado com o Brasil para garantir privilégios religiosos no regime do Estado (laico) Democrático de Direito que nos esforçamos em consolidar? É preciso aguardar as conclusões da Conferência episcopal iniciada hoje para avaliar os rumos da igreja católica brasileira. Se vai abraçar o pentecostes festivo do tipo renovação carismática, ou, mais além, o moralismo excludente do tipo opus dei, e assim abandonar as pastorais, as comunidades de base, a campanha da fraternidade e sua lição política (ambiental, social, moral...). A opção preferencial pelos pobres feita em Puebla sairá da pauta?

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