quinta-feira, 28 de junho de 2007

Pariu um rato

Ou, em time que está ganhando não se mexe. Está ganhando? Fala aí, Dunga?

A Câmara dos Deputados enterrou a reforma política. A mãe de todas as reformas foi rejeitada pelos parlamentares duas vezes. Primeiro perdeu a proposta total flex, que instituía a lista híbrida. Depois foi a vez de votar o projeto Caiado, mais antigo, o da lista fechada. Foi rejeitado também. E assim acabou-se a reforma política, a mãe de todas. Só vai permanecer em pé a fidelidade partidária, que deve ser votada depois do recesso. Mas isso porque o TSE já declarou que o mandato não é dos parlamentares, é dos partidos.

O traço mais melancólico desse fiasco legislativo é que a reforma, tal como vinha sendo há anos discutida, era pra levantar a importância dos partidos, em detrimento da personalização da representação que temos hoje no Brasil. Ganhou o time que está ganhando, de novo. Ganharam os parlamentares que foram escolhidos pelo sistema eleitoral em vigor. Estão ganhando o quê mesmo?

Nunca o Congresso foi tão desmoralizado. Eu gostaria de acreditar nessa frase e pensar que a desmoralização é mais um fato inédito da era Lula. Não é. Mas o espetáculo contemporâneo de avacalhação da instituição Política é de tanto mau gosto, as alcovas de fora, as bezerras, as infâmias, que no confronto direto com a história, sei não. Há até partidos nanicos (PTC e PSC) lutando pelo controle da igreja quadrangular(!?). Fala-se que um dos pastores teria contratado um pistoleiro para matar o outro. Detalhe: ambos são deputados federais. Há também o senador-tô-apertado-me-dá-trezentos mil-que-eu-te-dou-um-milhão-e-novencentos-de-troco-Roriz a explicar o improvável negócio bovino.

Enquanto a Câmara naufraga na falta de coragem, o Senado tem seu Presidente acuado e ameaçadoramente enfraquecido para votar qualquer coisa, ou seja, paralisa-se a agenda legislativa do país.

Os atos recentes do espetáculo de denúncias e defesas esfarrapadas em que se transformou a cena política são de péssimo humor, não dá nem pra relaxar. O palco principal: o Conselho de Ética do Senado, que já estão chamando de falta de ética. Ninguém queria ser relator do processo, o presidente renuncia. Tentativas de engavetamento sumário de acusações, que acusações? As de sempre, improbidade, falta ou quebra de decoro, a fundamentação é genérica assim porque não se consegue imaginar de antemão tanta criatividade para o erro.

No blog do Noblat, esta semana, um leitor perguntava, "quem vai julgar o Conselho de Ética?". Afinal, o motivo alegado pelo presidente Sibá para renunciar foi o de que estava sendo pressionado pelo seu partido e pelos integrantes da base de apoio ao presidente Renan no Conselho de Ética!

O povo julga os políticos a cada eleição, mas com as pesquisas de opinião saindo do forno estatístico a cada mês fica mais fácil sentir essa pressão. Fogueira acesa, a política do salve-se quem puder está instalada. Baixou o astral e a mãe de todas as reformas, tão urgente e relevante, pariu um ratinho. Chama-se status quo.

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