(in) fidelidade partidária
Impasse jurídico ameaça engessar filiações para 2008
Candidatos às eleições têm 60 dias para cumprir exigências, mas STF não definiu destino dos infiéis
Guilherme Scarance
Candidatos às eleições têm 60 dias para cumprir exigências, mas STF não definiu destino dos infiéis
Guilherme Scarance
A 60 dias do prazo para filiação dos candidatos às eleições municipais de 2008, três mandados de segurança incluídos na fila de julgamentos do Supremo Tribunal Federal (STF) ameaçam conturbar o meio político. Os recursos, de autoria do DEM, PSDB e PPS, com base em resolução do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), tentam tomar o mandato de parlamentares que trocaram ou trocarem de partido. O clima de insegurança vem adiando os planos de alguns partidos, enquanto na base governista, inflada pelo troca-troca, a ordem é seguir filiando e, depois, brigar na Justiça.“A decisão do TSE engessou todos, tanto os que queriam sair como os que queriam entrar”, opina o presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ). Por trás de todo o impasse está a Resolução 22.526 do TSE, aprovada em 27 de março, atendendo a uma consulta do DEM, à época ainda PFL. Por 6 votos a 1, a Corte decidiu que os mandatos obtidos em eleições proporcionais - para vereador , deputado estadual e federal - pertencem aos partidos ou coligações, não aos candidatos eleitos. Ou seja, quem sair perde a vaga.
Após as eleições de 2006, um intenso troca-troca partidário inflou a base do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo a Câmara, 32 parlamentares já migraram desde a posse, em fevereiro. Para a oposição, que perdeu com a movimentação, a resolução do TSE caiu como uma luva e serviu de base para a reação no Supremo. Na semana passada, o TSE reforçou a sua posição e deixou os 32 deputados em situação delicada. Sondagens informais no STF indicam que a mais alta Corte do País deve ratificar a punição para quem trocou de legenda. Por esse entendimento, se um deputado sair hoje de seu partido, mas não conseguir se candidatar, ficará a ver navios.
O Supremo voltou do recesso na semana passada e pode votar a qualquer momento os pedidos de liminar dos mandados de segurança. O mérito da questão, porém, será analisado depois, pelo plenário. A demora gerou inquietação e irritação nos partidos - até mesmo porque envolve uma polêmica que o próprio Congresso não conseguiu encerrar, pelo entrave na discussão da reforma política. O senador Sérgio Guerra (PE), que comanda articulações para 2008 no PSDB, diz que a questão da troca de partido deve ser “consertada o quanto antes”. “A Justiça avançou mais do que o Congresso”, afirma. Ele ataca o governo Lula e diz que a política de “boa vontade” da oposição com o governo não deu certo. “A sociedade está exigindo rigidez, firmeza.”O PR, um dos partidos que mais engordou, não quis comentar o assunto, por se tratar de matéria apreciada no STF. O comando do PMDB também não respondeu aos telefonemas do Estado. Na sexta-feira, porém, o presidente do partido, deputado Michel Temer (SP), viajou para Mato Grosso do Sul em busca de novos deputados e participou da cerimônia de filiação de Geraldo Resende, que era presidente estadual do PPS.
A saída de Resende - que pretende disputar a prefeitura de Dourados - tirou do sério o presidente do PPS, Roberto Freire. “É uma afronta total, um desrespeito total”, disse. Ele já pediu ao presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT), a devolução da vaga. Em seguida, vai recorrer ao Supremo. “Ele foi eleito claramente na oposição. O que fez é um escárnio.”
Enquanto perdura o impasse, ninguém fala às claras sobre candidaturas. Freire admite, porém, que a resolução afetou as negociações. “Não se tem uma situação exata. O que há é mudança de vereadores, em fim de mandato.” Os demais, diz, “têm um pouco de receio.”O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), diz que a medida não afeta o PT, mas atinge a base aliada. “No PT ninguém ingressa para ser candidato. Têm de ter anos e anos de militância”, afirma. Sobre a base, ele admite: “Causa insegurança para os que mudaram, pois fizeram à luz de um entendimento anterior do TSE. O ideal para a democracia é que o Supremo se posicione logo.”Quem parece não se incomodar é o PSOL, que não tem nenhum prefeito. “Nossa prioridade não é trazer parlamentares. Partido ideológico não tem isso”, diz o secretário-geral, Luiz Araújo. Para aumentar os quadros, a aposta do PSOL é em líderes de movimentos sociais e simpatizantes da esquerda.
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