mensalão: reta final
Para o relator, sessão de amanhã será a mais difícil
"Sociedade está com as vistas voltadas para o julgamento", diz Joaquim Barbosa
ANDRÉA MICHAEL DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa, relator do voto no caso mensalão, disse que "não está interessado em pressão política" e acredita que a sessão mais difícil do julgamento será amanhã, quando a Corte começa a apreciar a suposta prática dos crimes de quadrilha, corrupção e lavagem de dinheiro na relação do grupo comandado pelo ex-ministro José Dirceu e a base aliada no Congresso."A parte mais trabalhosa, digamos assim, vai ser a de segunda-feira, [quando o plenário do STF vai apreciar] o item seis, porque é a parte a mais complexa, envolve um grande número de pessoas, partidos. É realmente a parte mais robusta da denúncia", afirmou Barbosa.Na denúncia do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, além de Dirceu, são acusados o petista José Genoino, os ex-dirigentes do partido Silvio Pereira e Delúbio Soares, além de políticos de PL (hoje PR), PTB e PMDB. Até agora, o Supremo avaliou só 33% das acusações que pesam contra os 40 denunciados."Muito cansado", como ele afirmou, Barbosa estava em sua casa em Brasília quando falou à Folha, por telefone.Sobre o andamento do julgamento de maior repercussão política da história do STF, disse: "Está dentro das previsões. Está indo tudo bem. As dificuldades naturais do caso estão sendo superados, a começar da complexidade". Classificou como complexidade o grande número de denunciados e a quantidade de crimes. "As imputações são inúmeras, se entrelaçam, uma pode influir na outra. Vários dos denunciados são acusados por vário crimes. Todos esses detalhes fazem um caso intrincado."Questionado sobre a força da pressão política sobre o voto dos ministros do STF, respondeu: "Não me interessa".Em seguida, relatou o que chamou de "aspecto inusitado" que notou sobre o julgamento. "Normalmente os julgamentos do Supremo, em questões, assim, momentosas, fazem com que o plenário fique lotado. O contraste que estou sentindo neste julgamento é que o plenário não está lotado, mas a sociedade está com as vistas voltadas para o julgamento." E completou: "É um grande momento cívico, de cidadania, uma espécie de sinergia entre a Corte, o Poder Judiciário, e a sociedade".Barbosa não comentou as mensagens dos ministros Ricardo Lewandowski e Cármen Lúcia, que trocaram impressões sobre o julgamento, revelaram bastidores sobre a sucessão de Sepúlveda Pertence e criticaram colegas. "Não quero falar sobre isso, não vou botar lenha nessa fogueira."
Folha de São Paulo, 26 de agosto de 2007.
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