Após a tormenta iniciada pelo discurso da terça-feira, 25, da presidente Cristina Kirchner, espera-se mais um dia agitado na Argentina. Seu marido, o ex-presidente Nestor Kirchner, ultimamente ocupado em se fortalecer para presidir o Partido Justicialista, irá liderar um ato no Parque Norte, onde repudiará a greve dos produtores rurais. Por outro lado, estão previstas mais mobilizações e "panelaços" em outras cidades do país, além da permanência do bloqueio às estradas realizado pelos trabalhadores do campo, que, inclusive, convocaram greve por tempo indeterminado. Nos últimos dias, devido à suspensão do abastecimento provocada pelo bloqueio em estradas (só na terça foram mais de 50 bloqueios), houve aumentos nos preços de alimentos: 20% no frango, 45% nos ovos e até 70% nas carnes. Durante os governos de Néstor e Cristina Kirchner, em quatro oportunidades foram impostas medidas que restringem as exportações de produtos agropecuários. As retenções sobre as exportações totais do país cresceram 99% em 2007. Cabe ao governo nacional arcar com as conseqüências dessa pressão fiscal, pois não faz parte dos fundos participativos que são distribuídos às províncias argentinas. Segundo o economista Rosendo Fraga, "as manifestações dos produtores não respondem a nenhuma motivação ideológica ou política, são levantes espontâneos de uma classe rural que cresceu enquanto a classe urbana se enfraquecia. Esse setor é o que levou a técnica ao campo, aumentou a produtividade e reclama que se respeitem os ganhos pelos riscos assumidos".
Repercussões
Da parte oficial, o chefe de Gabinete Alberto Fernández declarou que "há setores que buscam acalmar os ânimos e transformar demandas de um setor numa oportunidade para expressar-se politicamente contra o governo". Também afirmou que lamentava "a intemperança do campo e de seus dirigentes". O ministro do Interior, Aníbal Fernández, assegurou que o governo trabalhará "produto por produto" para garantir o abastecimento e argumentou que "quem não entender essa necessidade irá preso". Também rebateu que os protestos nas ruas não tiveram "nada de espontâneos". Na oposição, muitos saíram a crucificar as vozes do oficialismo. Elisa Carrió (Coalisão Cívica) disse que "o dinheiro que roubam no campo vai para o bolso dos Kirchner", enquanto Maurício Macri (chefe de Governo da cidade de Buenos Aires) destacou que "é injusto castigar o setor que mais dinheiro trouxe à economia argentina nos últimos 10 anos". Gerardo Morales (União Cívica Radical) advertiu que "o desabastecimento é responsabilidade do governo". À noite, os principias canais de TV da Argentina mostravam ao vivo imagens dos enfrentamentos entre os cidadãos de Buenos Aires que saíram às ruas para manifestar-se em apoio às reivindicações do campo e grupos de piqueteiros pró-governo, os quais apelaram para a violência para obrigar os apoiadores aos produtores rurais a deixar a Praça de Maio. Em editorial publicado esta manhã pelo diário Crítica, o jornalista Jorge Lanata sintetizava: "o governo escolheu ajustar os preços com os moinhos, e não com os produtores de trigo, com os supermercados e não com os produtores de carne, com as fábricas de leite ignorando os fazendeiros, com o consórcio de frigoríficos exportadores e sem os produtores de gado nem os pequenos e médios frigoríficos. Por isso, as 500 maiores empresas da Argentina aumentaram em 50% sua participação no valor agregado e hoje controlam 23% do Produto Interno Bruto (PIB), ao passo que em 2001 respondiam por 16%, e 14% em 1997".
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