Obamemos
Barack Obama vai falar. O prêmio do Partido Democrata é dele. Se nos curvamos diante nobres e do clero, não é vergonha ficar de joelhos para ouvir um homem que mudou a história. Ele ainda não é o presidente, mas se imagine um negro no sul dos Estados Unidos, em 1961, quando Barack Obama nasceu. Nas escolas negras não havia nenhum branco, nem no seu bar, no seu restaurante, no seu hotel. Nem no banheiro público. Negro não tinha amigo branco. Ou vice-versa. Ou se imagine um branco que só via os negros atrás dos balcões, nas fábricas, na cozinha, esfregando o chão.
Em 68, com quatro jornalistas, o dono de um restaurante nos recusou serviçono Alabama, porque entre nos havia um etíope. Quando chamamos a polícia, vieram quatro carros e nos "deram proteção" para fora do Estado antes que fossemos agredidos.
Na terça-feira, só com o verbo, um negro magrelo chamado Barack Obama, saído de um bairro pobre de Chicago, se tornou o candidato do Partido Democrata à Presidência dos Estados Unidos. Ele pode ser o “boss”, o comandante-em-chefe, o líder do maior império do planeta. Imagine a cabeça dos sulistas que acreditavam na superioridade de raça branca e, hoje, vêem um negro perto da Presidência. E muitos não só acreditaram como votaram nele. Vamos ficar de joelhos. Até os que duvidam, como eu, das chances dele ser eleito em novembro, temos que acreditar num mundo melhor graças a Barack Obama.
E, quase tão extraordinário, em segundo lugar, com 1% de diferença nos votos, vem uma mulher. Também merece nossa circunflexão. Viva o Partido Democrata.
Luta
Esta luta começou há 16 meses, as primárias há quatro. Foram 54 eleições incluindo os caucus. E isto foi só o primeiro tempo. Impossível dizer qual dos dois candidatos foi mais generoso nos elogios ao adversário ontem à noite, mas os partidários de Obama queriam mais. O senador, na vitória, foi magnânimo. Hillary Clinton despejou adjetivos, mas quem esperava uma rendição ou mesmo um endosso da senadora ao senador ficou desapontado. Os partidários de Obama contavam com uma entrega maior.
O jogo político americano tem mais do que primeiro e segundo tempos. Afinal, o esporte do país é o baseball, são nove turnos e nem sempre acaba no nono. Então, qual é a próxima jogada?
Ontem à tarde, a senadora, numa entrevista com os deputados de Nova York, disse que estava aberta ao convite à Vice-Presidência. Os críticos logo viram na oferta mais um lance oportunista para gerar controvérsia e tirar o brilho da noite de consagração do senador. Para uma candidata que começou como favorita, caiu em desgraça e quase virou o jogo nas últimas seis semanas, ela esta forte e indispensável. Basta olhar o mapa das vitórias nos estados cruciais e a demografia.
A senadora tem os brancos pobres, as mulheres, os velhos, os latinos, os judeus. Sem ela, as chances do senador ficam menores. A pressão é cada vez maior para que ele ofereça a ela a Vice-Presidência.
Há forte resistência ao nome da senadora, que vem com a bagagem pesada do marido. E onde se enquadra a promessa de "mudança”, que foi o tema da campanha dele. Os Clintons são Washington. Faltam seis meses para eleição, uma eternidade com possibilidades de tragédias, escândalos, armadilhas, mas hoje, se você unir a chapa-sonho e a matemática dos votos do colégio eleitoral, a dupla Obama-Clinton é invencível.
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