As armas, cidadãos!
O mundo todo ficou chocado com mais essa manifestação da doença americana. 33 mortos no massacre da Virgínia Tech, cujo slogan é invent the future. Descobriu-se agora que o provável assassino é um aluno da Universidade de nacionalidade sul-coreana. Poderia ser chinês ou russo, mas a doença é americana e lá ganha foros de tutela jurídica, direito constitucional de possuir e portar armas de fogo (para auto-defesa). Todo mundo tem direito, as armas estão sempre à vista nas prateleiras, nos filmes de ação, na política externa... Aí, num dia de fúria, alguém resolve massacrar os primeiros que encontra pela frente. Dessa vez, o contaminado era um garoto coreano visto como um loner, solitário, desencaixado, impopular, ressentido, doente e titular do direito subjetivo de adquirir armas de fogo.
A facilidade de acesso e a cultura beligerante dos americanos engendrou essa doença. Mal comparando, pode-se dizer que o american self made man é também um potencial exterminador do futuro, do seu e de tantos outros que tiveram o azar de cruzarem seu caminho no auge do surto assassino. Aliás, não custa lembrar que o ator que na ficção matou tantos hoje governa o Estado da Califórnia.
Mas, e nós? Povo cordial, os brasileiros não temos essa doença. Valorizamos mais a vida, blá,blá,blá... Nada disso, a doença já chegou por aqui e teve até um plebiscito ou referendo para promover a contaminação de mais e mais pessoas. Lembrei aqui do artigo que escrevi sobre o resultado do referendo (A vitória do Não). Causou-me muita preocupação saber que o povo brasileiro é majoritariamente favorável às armas, ainda que com a desculpa moral de auto-defesa. Ouvi muitos argumentos contrários ao meu. Quase todos partiam do senso comum de que o cidadão de bem tem o direito de se defender armado e de que a vitótia do SIM representaria a perda desse direito. Ora, isso é uma falácia que foi muito bem manipulada pela campanha eleitoral dos partidários do NÃO. Disse isso lá no artigo.
Pois bem, os dados da Unesco dão conta de que por aqui na última década morreu mais gente vítima de armas de fogo do que em 23 guerras mundo afora. Na época em que o estudo foi divulgado (2005), pretendia-se contribuir com a campanha do SIM e estimular o desenvolvimento de uma cultura da paz. Ganhou o NÃO. Ganhou a bancada da bala no Congresso, financiada pela CBC e pela Taurus, preocupadas em perder mercado. Depois de passado um tempo o debate esfriou, como sempre ocorre. Mas as estatísticas macabras continuam a crescer entre nós. E o cidadão de bem, protagonista da campanha do NÃO, continua a se armar, para se proteger, claro. Uma pena que as armas não sabem fazer escolhas, elas simplesmente matam, exterminam o futuro: hoje será enterrado em São Paulo o corpo de um menino de 11 anos, morto pelo irmão, de 13, quando brincavam com a arma dos pais, policiais militares, todos do bem, eu presumo. Mortes sem motivo ou por motivo fútil costumam vitimar cidadãos de bem. As armas, cidadãos, elas muitas vezes são o próprio mal.
2 comentários:
Ô Mauro,
Dois dias após teu post sobre o referendo das armas e algumas horas após outro post sobre o "bushism" acontece isso. Credo, veja lá o que vai escrever no próximo final de semana.
Fiquei assustado com a coincidência também, Ladeira. Acho que vou acrescentar na apresentação d'APonte a chamada: Jagam-se búzios!
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