quinta-feira, 5 de julho de 2007

A queda

Roriz, que nunca perdeu uma eleição, que nunca foi condenado pela Justiça, que foi quatro vezes governador do DF, que praticou nesses anos todos de representação política o clientelismo mais escancarado engordando currais eleitorais assim como os outros cercados, os bovinos; que escapou de uma condenação no TSE que parecia certa diante do aglomerado de "indícios" de abusos de toda sorte; que foi ministro de Collor por alguns meses, que foi denunciado na CPI dos anões do orçamento, que conclamou seus fiéis eleitores para bater em petistas, que foi racista com um cidadão que depois revelou ser seu eleitor, que montou uma rede de apadrinhados em todos os escalões do GDF, que criou os assentamentos para acabar com as favelas e os transformou em novas favelas só que bem distantes do Plano Piloto, que teve como suplente na chapa ao Senado o ex-deputado distrital Gim Argello que soprou para a revista Veja que o dinheiro de Nenê Constantino era pra pagar juízes do TRE-DF e comprar a absolvição do chefe, Roriz acabou de renunciar. Não teve a mesma coragem de comparecer ao plenário do Senado para anunciar sua renúncia, para dizer para os milhares de eleitores que lhe deram o mandato porque estava jogando fora tantos votos. Acusou os colegas de falta de corporativismo, não o protegeram. Acusa principalmente seu suplente, o Gim, de tê-lo traído. Gim não quis saber da proposta de renúncia coletiva para que fossem marcadas novas eleições no DF. Promete assumir na semana que vem. Será o próximo da fila, mas parece querer correr riscos. Deve pensar que se der m... faz como o chefe, antes de ser intimado, renuncia. Deve estar temendo a perda do foro privilegiado, pois seu nome aparece junto com suas digitais em várias denúncias de corrupção, peculato, prevaricação...
Caiu o coronel do cerrado. E foi tão abrupta a queda que até surpreende. Como é que alguém tão liso como Roriz deixou-se flagrar em conversa de partilha de milhões em dinheiro vivo? "Esse dinheiro é de muita gente". E não tinha um assessor para avisar que a tribuna do Senado não é púlpito, que seu papelão pastoral não funcionaria para o grande público como tem funcionado quando se tratava de agradar seus humildes eleitores? "Meu Deus, a que ponto chegamos". Ao ponto final do mandato parlamentar de Joaquim Roriz. Agora vamos observar o desdobramento dos processos contra o ex-senador, principalmente o agravo de instrumento que está no TSE. Quanto ao TRE-DF, é lamentável que nem a corregedoria tenha sido acionada para limpar a honra e o respeito da Corte. Quando uma acusação dessas pesa contra qualquer servidor público, o mínimo que se espera é a instauração de sindicância para apurar os alegados desvios e as responsabilidades. Mas ficou apenas naquela nota de esclarecimento... Roriz acumulou muitas amizades no meio jurídico e sempre se jactou da influência que exerce sobre os homens honrados da justiça local. Pois o meio jurídico agora está no seu encalço, com um ministério público local independente e cheio de escutas telefônicas autorizadas judicialmente. Que venha o Gim.

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