Evasão de privacidade
Era do grampo, escutas ocultas, lentes potentes, tocaias, campanas, tudo para fabricar diretamente do cotidiano as celebridades instantâneas. Big brothers, reality shows... Até morar na roça dá ibope, desde que as moradoras sejam loiras turbinadas para o gosto da audiência. É isso. A audiência tem o poder. A audiência não se contenta mais com a ficção, exige a realidade, jogos mortais, acidentes, tragédias, mas também alcovas, escândalos, recintos, extratos, contas, cartas, e-mails. Tudo parece dizer que o importante é aparecer, pois a audiência pode querer ver. Hoje, nada é mais espetacular que o cotidiano. Haverá sempre uma câmera ou um celular prontos para flagrar o acontecimento que vende notícia. Tablóides proliferam em cima do jogo da fama. Mas estes, os famosos, vivem da exposição, evadem sua privacidade profissionalmente. O que vale para eles, valerá para todos? A Constituição ainda fala em intimidade protegida, comunicação privada e dados albergados pelo sigilo (art. 5º, X e XII), regras de baixa densidade e eficácia nesta era do grampo em que vivemos. Certo. A experiência republicana requer transparência, o exercício do poder público em público (Bobbio). Mas chegaremos ao ponto de perder totalmente o direito ao segredo?
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