segunda-feira, 19 de novembro de 2007

TSE pode perder a urna eletrônica

A notícia foi veiculada no blog do Josias: tramita no Congresso projeto de lei que transfere para os parlamentares o poder de controlar o processo eletrônico de votação e de apuração dos votos. Seria criada uma Comissão de Automação Eleitoral do Congresso Nacional (leia o projeto aqui), em substituição ao Tribunal Superior Eleitoral -TSE. Josias informa ainda que:

Subcomissão instituída na Câmara há sete meses prepara-se para divulgar nos próximos dias um relatório tão polêmico quanto mal divulgado. Sugere que o controle das urnas eletrônicas seja transferido do Tribunal Superior Eleitoral para uma “Comissão de Automação Eleitoral do Congresso Nacional”, a ser criada por lei.

Os idealizadores da novidade põem em dúvida a inviolabilidade das urnas eletrônicas. Sustentam que falta transparência ao processo eleitoral brasileiro. Atribuem a suposta obscuridade ao excesso de poderes do TSE. O tribunal acumularia atribuições que, além de excessivas, seriam incompatíveis entre si: baixa as normas que regem as eleições, administra o processo eleitoral e dá a palavra final nos processos que têm origem nos pleitos.

Em bom português, os deputados estão questionando a isenção da Justiça Eleitoral. E, a pretexto de resolver o suposto problema, sugerem que as regras do processo eleitoral eletrônico passem a ser definidas pelos próprios deputados e senadores, reunidos numa Comissão Eleitoral. Esquecem-se de um detalhe relevante: o congressista é parte interessada, muito interessada, interessadíssima no resultado das urnas. É como atribuir à raposa a gerência do galinheiro.

Parece mesmo uma retaliação às rotineiras intervenções do TSE no processo político (verticalização, número de vereadores, fidelidade partidária...), por meio de consultas ou atos regulamentares, ou ainda no julgamento de processos que acusam os políticos de práticas ilícitas (compra de votos, abuso de poder, condutas vedadas aos agentes públicos em época de campanha eleitoral... ). Mas, se não for apenas isso, pergunto: se o problema é de falta de transparência doTSE, por que não aprimorar o mecanismos de fiscalização e auditoria? Quem garante que a Comissão do Congresso será mais transparente do que o TSE?

O controle judicial do processo eleitoral foi um dos méritos republicanos da Revolução de 30, que pretendeu por fim às fraudes e arbitrariedades que sempre caracterizaram o processo eleitoral brasileiro em todo o período imperial e na República Velha. Criou-se a Justiça Eleitoral e extinguiram-se as odiosas comissões de verificação de poderes, que funcionava nos parlamentos e que tinha o poder de negar ao candidato eleito o direito de tomar posse, processo que ficou conhecido como "degola".

Que a reação dos políticos ao gigantismo do TSE não tardaria a vir era algo certo, mas acho que os nobres parlamentares, ao mirarem nas urnas eletrônicas, erraram o alvo.

2 comentários:

Anônimo disse...

E a Camara ainda nao indicou ninguem para o CNJ

Cláudio Ladeira de Oliveira disse...

Mauro,
Acho que você tem toda razão quanto ao estopim da medida: a crescente intervenção do TSE nos processos políticos. Tem razão também quanto ao fato de que isso já era esperado. Ora, se uma instituição começa a agir politicamente ela despertará reações. Pouco adiantará que ela justifique suas decisões como o resultado de interpretações teoricamente adequadas do direito. Se alguém age politicamente vai causar resultados políticos que como tais serão considerados, não importa a qualidade técnica da justificativa que ofereça para suas ações ou mesmo a sinceridade dos argumentos.
Mas mesmo sendo simpático à urna eletrônica (aquele processo anterior de cômputo de votos era infernal...) acho muito positiva essa discussão no parlamento. Tomara que seja só o passo inicial. Como você bem lembrou, a origem do TSE está ligada a uma das principais causas da revolução de 1930: a desmoralização dos processos eleitorais. Bingo! Eis o ponto. Acho que nos últimos anos o TSE não raro abusou do poder que lhe foi conferido. A decisão da verticalização das eleições em 2002 (já durante o processo eleitoral em curso, com a óbvia consequencia de favorecer um dos candidatos na disputa) é um exemplo famoso mas não o pior. No ano passado assistimos as intervenções diárias do min. Marco Aurélio Mello (presidente do tribunal), que em seus discursos (?) não raro reproduzia fielmente posicionamentos e palavras de ordem de alguns partidos na disputa, em detrimento de outros. Sinceramente, não fosse o resultado final do segundo turno das eleições presidenciais passadas de uma diferença tão marcante (60% x 40% dos votos válidos), fosse o resultado uma vitória apertada, não seria absurdo imaginar o referido ministro impondo obstáculos à posse do atual presidente. Enfim, no excesso de poderes "auto-atribuido" pelo próprio TSE (com a permissão do STF) há imbutido um risco de uma "republica velha" pela via judicial. Atribuindo um pouquinho mais de poder a determinadas a algumas figuras da cúpula do poder judiciário ficará difícil não se lembrar das "comissões de verificação de poderes". Ou dá pra esquecer a inocente referência, feita pelo ilustre presidente do TSE dias antes da eleição, ao Impeachment do presidente da república?
abração