domingo, 30 de março de 2008

Tapiocas e bruxarias

Acabo de conversar com um dos mais experientes repórteres políticos de Brasília. Sua visão – de dentro do jornalismo brasiliense – ajuda a trazer mais dados para essa história do suposto dossiê contra Fernando Henrique Cardoso. Ninguém duvida que o governo tem suas bruxarias, diz ele. É evidente que estava se armando para a eventualidade de uma CPI. Seria irracional que não estivesse. Só que as 13 folhas obtidas pela Veja, e reproduzidas pela Folha, não têm nada a ver com a história. Há inúmeras indicações de que o suposto dossiê pode ter sido produzido por membros do governo anterior, diz ele. A primeira, é que os papéis não machucam ninguém. Apresentam apenas banalidades sobre os gastos de FHC. Depois – continua ele – porque, pela descrição da “Folha”, percebe-se que foram extraídos de três bases de dados diferentes, com três letras diferentes de computadores, com diferentes tratamentos a dona Ruth. Esses papéis não foram produzidos na Casa Civil, garante ele. No máximo pode haver alguma coisa da base de dados que foi juntada às treze folhas. A Casa Civil pode ter seu levantamento, mas não é esse. Já havia suspeitas de que o material reproduzido pela “Folha” na quinta tivesse sido fornecido pela Veja. Primeiro, pelo fato de nenhuma das duas empresas darem a menor dica sobre a proveniência dos dados. Em qualquer jornalismo que se preze, não se entregam as fontes mas se dão dicas sobre a origem da informação, como forma de situar o leitor. Ou do Congresso, ou de fontes do Palácio, ou de fontes do antigo governo, qualquer coisa que permita ao leitor saber o que estão lhe servindo. As duas publicações nada falam sobre isso. Mas a confirmação veio na última edição de Veja.
Dilma Rousseff negociou terça e quarta pessoalmente com Roberto Civita a publicação do desmentido oficial da Casa Civil, diz ele. O acordo foi fechado na quarta. A confirmação veio na última edição da revista, no espaço aberto à Ministra. A redação da Veja se sentiu acuada. O suposto dossiê foi entregue à Folha na quinta – típica reação dos porões, diz ele.


E porque porões? Aí entra a questão da bruxaria, imagem que ele vai buscar em matéria de Elio Gaspari na Veja, em 1985, quando Brasília amanheceu coalhada de cartazes indicando que o Partido Comunista apoiava Tancredo. Todo mundo sabia disso, não era novidade. A novidade era saber quem colocou os cartazes. Enquanto a imprensa saía atrás da repercussão dos cartazes, Gaspari saía atrás da identidade dos responsáveis – que haviam sido presos. Descobriu-se que eram pessoas do Centro de Informações do Exército, pretendendo açular a linha dura. A lógica é a mesma do suposto dossiê, diz ele, e não se trata de tapioca. Todo mundo sabe que o governo está se armando. Mas o dossiê foi gerado fora do governo para criar um fato político – não com a linha dura do Exército, obviamente, mas com os falcões do Congresso. Tem uma matéria Veja acontecendo neste momento, diz ele. Não é só calvinista, falso moralismo, não é só estupidez que está exposta. Tem bruxaria também e que está se desdobrando agora. O pessoal antigo de FHC voltou a operar. A grande pauta do momento é saber quem confeccionou o suposto dossiê. Mas isto é pauta para mim e meus colegas de Brasília, diz ele, antes de nos despedirmos para o almoço.

PS - Obviamente o que o repórter expõe é uma hipótese de investigação, uma suspeita, uma pauta que está sendo perseguida.

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