quarta-feira, 2 de abril de 2008

Na lona?

Por Bruno Garcez


Ela não tem mais chances matematicamente, conta com menos superdelegados, com menos votos populares e sua permanência na disputa democrata tem contribuído apenas para enfraquecer o provável candidato democrata. É esse o argumento dos que querem que a senadora Hillary Clinton abandone a disputa para decidir quem será o próximo candidato democrata à Presidência dos Estados Unidos e apóie Barack Obama. Alguns líderes ilustres dos democratas já o dizem abertamente, caso do senador Patrick Leahy, de Vermont, que afirma que a permanência de Hillary na corrida vem beneficiando mais ao republicano John McCain do que qualquer ação ou slogan lançado pelo próprio McCain. Alguns, como o presidente do partido, Howard Dean, e a líder da Câmara, Nancy Pelosi, clamam por um desenlance rápido da disputa, argumentando que a corrida não pode continuar até a convenção democrata, em agosto.
Como um desfecho só se dará com um dos candidatos abrindo mão da candidatura, e como Obama lidera em todos os quesitos, a mensagem dos dois líderes só pode ser uma indireta a você sabe quem. Em meio ao terreno minado enfrentado pela senadora, um dos seus correligionários, o deputado Emanuel Cleaver, do Mississippi, se arrisca a fazer uma previsão: a de que a Presidência dos Estados Unidos ficará com... Barack Obama! O jornal Wall Street Journal relatou recentemente que um grupo de deputados que apóiam Hillary tanto na Carolina do Norte como em Indiana estariam dispostos a anunciar seu apoio a Obama antes da realização das primárias de seus Estados. Mas, se a senadora parece não ter mais opções e se até mesmo destacados membros de seu partido e correligionários parecem querer que ela faça um retorno antecipado ao Senado americano, o que ainda mantém Hillary na disputa? Uma das hipóteses, que me parece um tanto exagerada, é a de que ela queira justamente provocar a derrota de Obama para McCain e assim retornar em 2012 como a candidata democrata. Uma hipótese que parece ingênua, visto que Hillary provavelmente sabe que muita coisa muda em quatro anos, que o diga a ascensão de Obama. Outra possibilidade, e essa não merece ser desconsiderada, é a de que ela poderá vencer todas as principais disputas adiante, a começar pela Pensilvânia, no próximo dia 22. E, mesmo não alcançando Obama no voto popular, poderia fazer valer sua tese, a de que a dinâmica está a seu favor e de que ela é mais elegível do que o rival. Hillary poderá até mesmo vir a superar Obama no voto popular, caso o Partido Democrata opte por realizar novas primárias no Michigan e na Flórida, onde ela contaria com a preferência dos eleitores. Por essas e por outras, mesmo com as opções se esgotando, ainda é cedo para descartar Hillary. Hoje, ela chegou até a se comparar ao célebre pugilista das telas Rocky Balboa, que acabava vencendo suas disputas mesmo depois de tomar muitos socos e de ir à lona várias vezes. "O senador Obama diz que está cansado da campanha. E seus correligionários dizem querer que ela termine. Você já imaginou se Rocky chegasse no alto daquelas escadarias do museu de arte e dissesse: 'Bem, acho que já fui longe o bastante'?", indagou Hillary. E acrescentou: "Não é assim que funciona, em se tratando de terminar a luta, Rocky e eu temos muito em comum. Eu nunca desisto". Mas, ao contrário do que acontecia com o personagem de cinema, na luta para ganhar a candidatura, Hillary poderá acabar perdendo por nocaute técnico.

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